• Skip to main content
michelle azevedo

michelle azevedo

Hide Search

Máquinas podem pensar?

micneaz · 3 de outubro de 2022 ·

Recentemente, a Rainha da Inglaterra faleceu e, no dia de seu falecimento, um arco-íris apareceu perto do Palácio Buckingham. Alguns acreditavam que eram boas energias para a Rainha, mas um cara twittou que era Alan Turing zoando com a morte “dessa vaca”.

Ele estava brincando com o fato de que Turing estaria comemorando a morte da rainha, porque ele foi perseguido a vida toda pela realeza, por ser homosexual.

Esse tweet me deu vontade de reviver um artigo que o Turing publicou na revista de filosofia e psicologia de Oxford, no qual ele abria o questionamento “máquinas podem pensar?”.

Turing queria fazer um experimento para responder essa pergunta, mas naquela época achavam que esse tipo de pesquisa era totalmente descabida. É claro que máquinas não poderiam pensar como humanos, afinal, isso era uma máquina:

Na empreitada de ter sua pesquisa aceita e poder fazer seus experimentos sobre a consciência das máquinas, Turing deixa as questões técnicas da ciência da computação um pouco de lado e aborda nesse artigo questões existencialistas, expondo os preconceitos do leitor e fazendo-o questionar sua própria humanidade.

O jogo da Imitação

A Humanidade flerta com a ideia de que outro ser, desprovido de alma, possa realizar tarefas difíceis para ela. Antes, eram as pessoas de pele preta submetidas a trabalhos repetitivos e cansativos, com o pretexto de que não teriam alma ou sentimentos.

Agora moldamos as máquinas para fazer o trabalho pesado, inclusive o cognitivo, porque essas sim, não tem alma… será? Para desvendar esse mistério, o Sr. Turing propôs o desenvolvimento de um jogo da adivinhação.

Esse jogo conta com um interrogador que, através de perguntas e respostas, visa distinguir as diferenças entre os dois outros participantes para descobrir qual dos dois é o homem e a outra a mulher (Será que ele está aproveitando o artigo para fazer uma piadinha provocativa sobre o tema de gênero?) mas que ele gostaria de desenvolver esse mesmo jogo para desvendar qual dos dois é uma pessoa e o outro uma máquina.

Para Turing, é tão difícil compreender de onde vem o conhecimento de um humano quanto de uma máquina, pois fisicamente, ambos passam suas informações via impulsos elétricos (nós, pelo sistema nervoso).

Também o processo de aprendizado é um mistério, não há como atestar se as pessoas criam do zero suas habilidades ou imitam e vão aprimorando, assim como as máquinas fazem, por meio de seus algoritmos. Há pessoas com diferentes inteligências (chamamos de capacidade cognitiva), assim como há máquinas com capacidades computacionais diversas.

Por esses motivos e outros, Turing acredita que a questão “máquinas podem pensar?” é muito relevante e usa o artigo para refutar os argumentos mais comuns, aqui vão alguns (experimente ler pensando na sua própria inteligência e humanidade):

1. O argumento sobre a informalidade do comportamento

O ser humano pode agir de maneiras diferentes em uma mesma situação, então parece impossível escrever regras de conduta para a máquina seguir que imitem a imprevisibilidade de um ser humano .

— Turing refuta dizendo que um dia configurou um programa usando apenas 1.000 unidades de armazenamento e a máquina surpreendeu ele respondendo, em apenas 2 segundos, um número de dezesseis dígitos.

Para ele, isso significa que a capacidade de aprendizado da máquina é muito mais rápida do que a nossa, e ele ainda desafia: Você pode prever o que a máquina vai responder? Logo, para nossa capacidade de entendimento, o tempo de resposta da máquina seria como um evento informal e aleatório da vida. É tão rápido que pra gente parece aleatóri a a resposta da máquina — ainda mais um chatGPT.

2. Uma objeção teológica

Pensar é uma função da alma imortal do homem, máquinas e animais não têm a mesma capacidade.

— Turing debocha e diz que tem até preguiça de refutar o argumento da igreja, mas fdiz que é apenas uma questão de tempo até que a sua interrogação fosse aceita e se torne comum, assim como foram as descobertas de Galileu.

3. Argumento das várias deficiências

Máquinas podem fazer muitas coisas, mas não podem fazer X — como ser gentil, criativa, bonita, amigável, ter iniciativa, senso de humor, saber o certo e o errado, cometer erros, apaixonar-se, gostar de morangos e creme, fazer alguém se apaixonar por ela ou aprender com a experiência .

— Embora saibamos que máquinas não podem fazer X hoje, não devemos nos limitar ao que conhecemos. O desconhecido é sempre supostamente limitado em algum aspecto. Por que não explorar o que ainda não sabemos? Por que não nos aventurar em novas possibilidades? Se não fossemos além do que conhecemos, não iríamos ao espaço.

Às vezes, usamos este tipo de afronta contra pessoas também, geralmente de forma racializada. Achamos que uma pessoa pobre, preta, árabe, mulher, etc., não é capaz disso ou daquilo.

Também usamos este argumento para coisas mais abstratas, como subjulgar outras culturas: uma criança inglesa, em sua soberba, pode achar que aprender francês é uma besteira, pois esta habilidade é muito pouco útil na sua realidade. No entanto, à medida que cresce e tem experiências, pode descobrir que o idioma francês também pode fazer X ou Y.

Portanto, este tipo de indução não é científica e sobretudo não é adequada para invenções humanas. Sempre temos que explorar mais o espaço-tempo — E quantas vezes não estivemos errados ao longo da história?

4. Objeção Lady Lovelace’s

A máquina analítica não tem pretensão de originar nada; ela apenas segue ordens. Outra variante desse argumento é que uma máquina nunca pode fazer algo novo; ela só pode reproduzir.

— Isso é o mesmo que assumir que, assim que os fatos são apresentados, todas as consequências desse fato surgem na mente junto com ele. No entanto, isso não acontece. Nós precisamos de tempo e contato com qualquer coisa ou pessoa para compreender suas possibilidades.

5. O argumento da consciência

Um professor levantou o argumento de que máquinas não podem sentir.

— Turing acusa de ser um ponto de vista solipsista, ou seja, a ideia de que só nós podemos ter certeza de que “nós” sentimos e pensamos, não há como ter certeza que mais nada ou ninguém sente e pensa também.

Ele considera essa teoria imoral e acredita que um pensamento mais gentil é pensar que todos sentem e que não há como provar se as pessoas criam ou imitam. É claro que há um mistério em torno da consciência de cada ser, mas há um paradoxo ao tentar resolver essa questão, logo essa questão não precisa ser respondida de forma definitiva antes da que ele propôs: “as máquinas pensam?”

6. A objeção matemática

Existem perguntas que algumas máquinas não conseguem responder (existem declarações sobre o sistema lógico que não podem ser provadas nem desaprovadas dentro do sistema). Portanto, seria inconsistente criar um jogo, pois cairia nesse problema.

— Turing levanta alguns teoremas que poderiam ser usados como base para o programa que jogará o jogo da imitação, por exemplo, se o teorema de Gödel fosse usado, precisaríamos ter meios de descrever sistemas lógicos em termos de máquinas e máquinas em termos de sistemas lógicos.

Ele entende que geralmente quando há inconsistências e a máquina responde algo “errado”, nós nos sentimos superiores a elas, sem lembrar que nós também erramos com frequência. Assim, todos têm alguma inconsistência, mas isso não invalida o fato de que esse jogo poderia melhorar a compreensão sobre a questão e que poderíamos criar muitos jogos, afinal, não há como vencer todas as máquinas (passadas, presentes e futuras).

7. Argumento da continuidade no sistema nervoso

O sistema nervoso não é uma máquina de estado discreto, pois as causas e consequências não acontecem na mesma proporção. Portanto, não é possível imitar o seu comportamento com uma máquina de estado discreto.

— No entanto, dentro das regras do jogo, o interrogador não vai obter nenhuma vantagem dessa diferença. Por exemplo, se usarmos uma máquina de análise diferencial, o computador digital não conseguirá acertar exatamente as respostas, mas ele conseguirá fornecer respostas aproximadas corretas. Assim, seria muito difícil para o interrogador distinguir qual sistema é o nervoso e qual é o da máquina.

8. A objeção “das cabeças na areia”

As consequências de máquinas pensarem seriam tão perigosas que é melhor nem pensar sobre isso.

— Ele acha que esse argumento não tem muita substância (sim, em muitos momentos o artigo tem um tom jocoso, é ótimo).

Photo by Possessed Photography on Unsplash

O texto de Turing continua com mais refutações e considerações sobre como montar uma máquina para jogar o jogo da advinhação.

O jogo poderia levar décadas para ser construído. Se compararmos com outras questões, considerando que demoramos centenas de anos para abolir legalmente a escravidão e que o racismo ainda é uma pauta ativa, o prazo não parece fora da escala humana de descobrimentos históricos.

Já se passaram mais de 50 anos desde o artigo do Sr. Turing, as máquinas evoluíram muito e a questão de se elas pensam é cada vez mais atual.

Naquela eepoca, ele acreditava que haveria um computador capaz de jogar o jogo da imitação com tamanha performance que, em apenas 5 minutos de interação, o interrogador teria menos de 70% de chance de identificar quem é a máquina e quem é o humano.

Isso tornaria a questão “as máquinas podem pensar?” insignificante.

A morte de Turing

Na Inglaterra há menos de cem anos, a homossexualidade era proibida. Por isso, Alan e milhares de outros homens foram submetidos a tratamentos hormonais experimentais (foram cobaias) e perturbadores para se curarem dessa “doença”.

Infelizmente, a legalização da homosexualidade veio apenas em 1967, tarde demais para Turing, que se suicidou em 1954, muito provavelmente se envenenando.

Em agosto de 2009, o programador britânico John Graham-Cumming iniciou uma petição instando o governo britânico a se desculpar pela acusação de Turing como homossexual, petição reconhecida pelo primeiro-ministro Gordon Brown que se desculpou e descreveu o tratamento dado a Turing como “terrível”.

É bem triste pensar que Turing foi perseguido por ser homosexual e, por isso, sua contribuição pra ciência foi tão reduzida: ele escreveu este artigo quando tinha apenas 41 anos — 4 anos antes de sua morte.

*link para o artigo original do sr Turing: https://academic.oup.com/mind/article/LIX/236/433/986238

notas sobre o livro da brigitte vasallo “piensamento monógamo — terror poliamoroso”: não monogamia e reconhecimento

micneaz · 12 de janeiro de 2022 ·

O casal monogamico não é necessariamente definido pela exclusividade sexual, muitos continuam juntos apesar de traições… o mais importante é a hierarquia entre o casal e os outros amantes (amizades, familia etc): apenas uma pessoa é considerada legitima. Há constante competição para alcançar e conservar o “núcleo casal”.

No entanto, mesmo com a pretensão da segurança e eternidade desses relacionamentos, hoje temos monogamias consecutivas (namoros e casamentos curtos) que deixam pra trás muitos cadáveres afetivos e quebra total de relacionamentos em rede.

  • Assim como outros sistemas de controle, a monogamia tambem costuma ser justificada como “natural”, mesmo quando no resto do reino animal não exista como categorizar seres sempre estritamente monogamicos.

A questão do genero binario vem junto no pacote, mas temos diversos casos, como dos amerindios (EUA) em que as comunidades validavam, pelo menos, 5 tipos de generos diferentes em seu grupo. Brigitte também comenta que muitas especies tem individuos que trocam de sexualidade de acordo com a necessidade social do bando.

  • O sistema monogamico foi se formando juntamente com o cercamento de terras, controle populacional… a igreja, que já teve ritos iniciaticos de sexo grupal para gerar maior coesão de grupo, passa a perseguir essas práticas e usar seu poder para fortificar o imaginário da família heterosexual patriarcal.

✨ No seculo XX já não temos memória de outras possibilidades.

  • Hoje a positivação da exclusividade esta relacionada com os mecanismos do consumo e da publicidade: Produtos exclusivos, férias exclusivas, clubes exclusivos, diplomas exclusivos, bairros exclusivos, assentos exclusivos… o que não passa de propagandas para produtos efêmeros, como também acabam sendo os relacionamentos.
Photo by Francesco Labita on Unsplash

O tabú da fidelidade, encobre algo maior e mais importante que são a responsabilidade ou a co-responsabilidade, o compromisso ou a interdependência em comunidade… O medo da solidão atual não é apenas sobre não ter redes, há pessoas que estão sós no abismo de nossas vidas contemporâneas, não porque não tem companhia, mas porque ninguém se preocupa com elas.

Brigitte acredita que é possível fazer da nossa experiência amorosa coletiva uma ferramenta de transformação política, que distribui os direitos e deveres de forma mais equitativa do que a formação jurídica e reprodutiva da “família tradicional”, essa que não necessariamente forma vínculos de comunidade, mas sim torna facilmente identificável quem pertence a quem, inclusive no quesito de privilégios hereditários ou no que diz respeito às nacionalidades…

  • Ela alerta, porém, que romper esse vínculo sexo-afetivo sem abrir outras perspectivas comunitárias também é aventurar-se a solidão que é real no território de desemparo que habitamos de indiferença generalizada…

Na relação poliamorosa, todas as partes se conhecem, sabem da existência umas das outras, por outro lado as redes afetivas não se conformam com o conhecer mas em construir reconhecimento, coletivizando os prazeres e também as dores, tendo o reconhecimento como base da possibilidade de existência comum. Afinal, quando um dos afetos conhece a outra parte, mas não reconhece sua implicação na rede, a rede não existe, só existem
fragmentos..

  • Por outro lado, ela reconhece que estamos caminhando para uma sociedade cada vez mais individualizada e ainda androcentrica (pautada no patriarcado, como no caso da ficção das fotos e vídeos de mulheres feitas para “servir” O prazer de “um” só homem) pautada no desenvolvimento de tecnologias que tornam até mesmo o prazer em algo virtual, nos afastando cada vez mais da real intimidade e vulnerabilidade do afeto, nos aproximando cada vez mais de um sistema altamente controlador, cada vez mais preditivo e opressor, transformando até mesmo nosso prazer em algo limitado e mecânico.

Brigitte Vasallo é uma escritora espanhola conhecida especialmente por sua crítica da islamofobia de género, a denúncia do purplewashinge o homonacionalismo, bem como por sua defesa do poliamor nas relações afetivas. (fonte: wikipedia)

Segue o link para o livro: piensamento monógamo — terror poliamoroso

por que São Paulo usou políticas urbanísticas que já tinham dado errado em outros lugares?

micneaz · 7 de janeiro de 2022 ·

Bairros ricos muito bem delimitados e afastados dos mais pobres, diversos subcentros que não conversam entre si, você já teve a impressão de que vistar São Paulo é como se fosse visitar muitas cidades diferentes?

A cidade apresenta uma formação desarticulada e segregadora, resultado principalmente da adoção de políticas públicas urbanísticas estrangeiras, ao invés de termos criado nossas próprias políticas baseadas em nossa realidade já existente.

Essas políticas foram impulsionadas pelo capital estrangeiro e eram práticas que criaram a financeirização da terra em outros países, formando um mercado imobiliário mais complexo.

Como as políticas tinham como prioridade o lucro de alguns agentes e não a melhor socialização da população, como consequência, houve a desagregação da vida comunitária, a super individualização das vidas, a dificuldade de todas as classes se conectarem, entre outras marcas do sistema capitalista e do hiperconsumo.

Mesmo sabendo que essas políticas geraram problemas sociais, o Plano Urbanístico Básico (PUB), elaborado em 1969 por um consórcio entre duas empresas brasileiras e duas norte-americanas, incluiu entre seus elementos as mesmas práticas americanas que foram vendidas como medidas inovadoras para estimular o desenvolvimento urbano por meio de subcentros.

Em vez de enriquecer e fortalecer a infraestrutura existente na cidade, novos centros foram criados artificialmente, não porque a população indicava essa necessidade, mas para criar espaços onde novos investidores, principalmente estrangeiros, pudessem atuar.

Um dos casos emblemáticos foi o centro corporativo e financeiro, que antes estava localizado na Avenida Paulista e foi impulsionado pelos incorporadores a ser dispersando e construído do zero às margens do rio Pinheiros.

Em seu doutorado entitulado “São Paulo cidade global: Fundamentos financeiros de uma miragem”, Mariana Fix analisa que para construir esse “novo centro corporativo global”, a prefeitura demoliu e expulsou comunidades de milhares de pessoas que viviam ali há décadas, sem um plano adequado de moradia e realocação para essas pessoas.

Este processo é muito semelhante aos zoneamentos que expulsaram os pobres da cidade de Nova York na década de 1920: quando o número de pessoas na cidade aumentou significativamente, obrigou diferentes classes sociais a viverem muito próximas umas das outras. As pessoas de classe média, que tinham acesso aos bens de consumo industrializados, agora não queriam mais o contato com milhões de pobres e indigentes.

Isso deu início ao processo de gentrificação ou enobrecimento das áreas urbanas, feito por meio de maiores taxações ou definição de usos para cada área, entre outras ferramentas de zoneamento que tornam ilegal ou muito caro para os pobres estarem em certos distritos da cidade, esses mecanismos burocráticos levaram os cortiços a serem expropriados e os pobres foram induzidos ou obrigados a sair dos centros e a viver em conjuntos habitacionais distantes ou arranjarem por si próprios outros modos de (sobre)viver, por vezes com acesso ao transporte em massa, o metrô.

À esquerda: “Devemos salvar Nova York?” Anúncio, New York Times, 5 de março de 1916. Direita: Relatório final, 2 de junho de 1916, Comissão de Distritos e Restrições de Construção (fonte)

Essas tendências descentralizadoras urbanas são consideradas pelo sociólogo Bauman — precursor do conceito de modernidade líquida e que pensa também sobre a urbanidade nessa chave — como estratégias que visam, propositadamente, a segregação e desintegração da vida comunitária, pois a convivência na cidade passa a depender da Mobilidade e do Tempo, dois luxos.

Assim, a cidade entrou no século XX. Com o aumento da riqueza, houve uma busca pela materialização do conforto no território por meio de demolições, requalificações, paisagismo e adequação dos espaços para o transporte.

Retificação do rio Pinheiros — fonte

Por outro lado, parte da parcela rica resolveu ela mesma se afastar dos centros e é nesse momento também que surgem os subúrbios: bairros mais afastados do centro da cidade, mas para pessoas mais ricas, geralmente compostos por casas com jardim.

O subúrbio

Nos Estados Unidos, a cidade pioneira nesse modelo foi Los Angeles, descrita por Peter Hall como “a cidade à beira da autoestrada”, pois os bairros de subúrbio foram construídos onde antes eram os ranchos á beira da estrada. Aquelas terras baratas, desvalorizadas, eram compradas a preço de banana, separadas em lotes e vendidas como espaços especiais e tranquilos para casas de família.

Ou seja, ranchos adjacentes à cidade foram comprados intencionalmente para especulação imobiliária. Esse modelo de descentralização se tornou uma ótima oportunidade para incorporadoras, era um projeto de vida a ser vendido para o público da classe média.

Por aqui, mais de 50 anos depois, copiamos o modelo: a região de Alphaville era antes terras de famílias tradicionais e ricas de São Paulo, porém habitadas por uma centena de pequenos produtores, a região começou a ser desapropriada e loteada a partir dos anos 50 e foi lançada como um produto, um conceito novo no morar, no início dos anos 70.

Alphaville do zero — fonte

Não aconteceu de os ricos irem naturalmente para lá, o plano foi engenhoso para construir um novo núcleo urbano independente: havia um plano para induzir que as pessoas realmente morassem nesses bairros, os condomínios impunham regras rígidas de construção de residências permanentes para evitar que os loteamentos se tornassem apenas casas de férias.

Para atrair esses moradores, peças publicitárias faziam apelos como “Verteville 4 — em Alphaville -, soluções reais para problemas atuais” ou, como o psicanalista Dunker traz em seu livro so Alphaville “Mal-Estar, Sofrimento e Sintoma: Uma psicopatologia do Brasil entre muros”, as propagandas de condomínios chegam a ser mais explícitas: “Vila das Mercês. O direito de não ser incomodado”.

Na época, matérias para o jornal Estadão, Alphaville é enunciado como um bairro que supera o “constrangimento” do caos da cidade, entre outros discursos similares aos das promessas em Los Angeles nos anos 20–30, condomínios que seriam a “construção de autênticas comunidades”, um oásis de colaboração, protegido por seguranças particulares.

Não se sabe, porém, de onde vieram as expectativas tão altas das propagandas, pois o modelo de moradia em subúrbios não havia dado certo em Los Angeles, que sofreu impactos já em 1920.

Em seu livro “Cidade de Quartzo”, Mike Davis discute o declínio da cidade com a queda do comércio nas áreas anteriores à abertura das rodovias, a segregação dos locais de lazer, o fechamento de centros comunitários e o aumento da violência nas ruas.

Aqui em Alphaville, as consequências podem ser bem vistas no documentário “do lado de dentro do muro”:

https://cdn.embedly.com/widgets/media.html?src=https%3A%2F%2Fwww.youtube.com%2Fembed%2FRrUW_-5lZvA%3Ffeature%3Doembed&display_name=YouTube&url=https%3A%2F%2Fwww.youtube.com%2Fwatch%3Fv%3DRrUW_-5lZvA&image=https%3A%2F%2Fi.ytimg.com%2Fvi%2FRrUW_-5lZvA%2Fhqdefault.jpg&key=a19fcc184b9711e1b4764040d3dc5c07&type=text%2Fhtml&schema=youtube

Em seu livro “Confiança e medo na cidade”, Bauman defende a necessidade de uma urbanização que crie comunidades sem muros, mesmo que se saiba que essa integração urbanística é um embate permanente, uma luta de interesses eterna.

a propaganda não disse que os pobres iam ficar longe?

Nas décadas seguintes a esses movimentos de descentralização da cidade de São Paulo, a diferenciação social em tornou-se cada vez mais evidente pela localização onde as pessoas transitam, principalmente pela relação com o poder de compra individual o que trouxe consequências gritantes para a sociedade brasileira.

Em 2001, Alphaville recebeu uma barreira adicional com a inauguração do primeiro pedágio na região, situado na Rodovia Castelo Branco, a poucos quilômetros do bairro. Essa medida foi recebida com críticas, porque os moradores das cidades vizinhas esperaram muito tempo por uma via mais rápida para ir a São Paulo e, agora que tinha, não podiam utilizar devido ao alto valor abusivo cobrado no pedágio, que só pensava em lucrar em cima dos ricos de Alphaville ou, em um duplo movimento, afastar ainda mais os pobres desse bairo.

Em São Paulo, vimos a segregação social intensificar-se, como com a segurança privada, os muros e cercas elétricas monitoradas por câmeras e outras novas tecnologias.

Em 2008 os mecanismos se demonstraram ainda mais sutis e rebuscados, quando, na inauguração do Shopping Cidade Jardim, a cidade se deparou com uma novidade: não havia entrada para pedestres, para evitar aqueles que não tinham carros e, além disso, não havia praça de alimentação no shopping.

Dois anos depois, entre 2010 e 2011, os moradores do bairro rico Higienópolis, com menos de 5 mil habitantes, se opuseram à construção da linha de metrô na região, pois acreditavam que isso traria “pessoas indesejadas”. Uma moradora do bairro disse, em entrevista, que elas eram “gente diferenciada”. A disputa pelos territórios se materializa algumas semana depois, em resposta, centenas de pessoas se uniram através da internet para realizar um churrasco como protesto à postura segregacionista de alguns moradores do bairro, conhecido como “Churrasco da Gente Diferenciada”.

Em 2014, a questão relacionada ao acesso da população de baixa renda aos shoppings centers voltou em destaque na mídia com os conhecidos “rolezinhos”. Neles, jovens de baixa renda combinavam de ir em grupo os shoppings mais caros da cidade, onde antes eram geralmente expulsos quando iam sozinhos, separadamente. Na época, um conhecido colunista acabou por evidenciar ainda mais os preconceitos enraizados na sociedade dizendo que esses jovens eram “incapazes de reconhecer sua limitação e tinham inveja da juventude abastada, da riqueza e das pessoas educadas”.

Em 2019, uma outra crítica veio a tona quando uma pessoa famosa disse que o aeroporto estava se tornando uma rodoviária, expondo sem vergonha alguma que considerava as roupas e trejeitos das pessoas mais pobres inapropriados para ambientes que até então eram apenas frequentados pelos mais ricos, como o aeroporto.

Photo by Guilherme Madaleno on Unsplash

Colônia 2.0

É claro que muito desses conflitos de classes são apenas uma continuação de uma sociedade com histórico escravagista, onde a separação entre casa grande e senzala se torna ainda mais requintada. Somado a isso, temos um cenário de globalização que induz a continuação da submissão brasileira á economias mais fortes, mantendo o país em posição de colônia, mas com mecânismos econômicos-culturais-políticos mais requintados também.

No início do século XX, o Brasil entrou rapidamente no mercado internacional industrializado. Porém, durante a segunda revolução industrial, países como Estados Unidos e Alemanha investiram pesado em pesquisa que geraram novas tecnologias de produção mais refinadas, aumentando a competitividade internacional. O economista Wilson Cano argumenta que, nesse momento, o investimento necessário para o Brasil alcançar níveis internacionais em novas tecnologias e escala de produção era maior do que o Estado brasileiro poderia organizar.

O capital estrangeiro então entra sob o pretexto de modernizar o que já existia e as políticas industriais se abrem para isso, levando ao desmonte de vários setores, abrindo ainda mais espaço para o capital estrangeiro desnacionalizar o sistema financeiro. Esse cenário impossibilitou que o Brasil se tornasse um país neoliberal independente.

Nesse cenário, São Paulo, a capital corporativa do país, busca se tornar uma cidade moderna e atraente para os investimentos de empresas estrangeiras, que vêm para “substituir” a agora obsoleta indústria desatualizada brasileira.

Para isso, adota políticas públicas de planejamento urbano dos Estados Unidos, como “cidades para carros” e “plano de zoneamento”. Isso dinamiza o capital e complexifica o mercado imobiliário, ainda incipiente na cidade.

Como consequência, observamos o aumento da distância física entre aqueles que podem e não podem comprar, viver e visitar áreas da cidade. A terra, o território e a cidade, agora, não são mais lugares para convivência, mas produtos a serem comprados e financiado pelo capital estrangeiro.

Nada disso foi surpresa, pois o planejamento territorial dos EUA, os modelos implementados não promoveram convívio social e comunidade, mas abriram um enorme mercado para incorporadores imobiliários. Ao trazer esses modelos para o Brasil, já se sabia há décadas dos efeitos colaterais de tais políticas, mas a economia fraca tornava desleal a disputa entre o capital estrangeiro e o poder do Estado.

Um ano sem comprar nada e outras escolhas de vida não convencionais: notas sobre os livros da Cait Flanders

micneaz · 27 de julho de 2021 ·

Cait Flanders é uma escritora canadense de 30 e poucos anos que, aos 29, depois de pagar todas suas dívidas, decidiu ficar um ano sem comprar nada. Não porque precisava muito poupar, sua carreira ia bem, estava estável, mas ela queria saber até que ponto comprar coisas tomava parte de sua vida e documentou essa jornada em seu blog que já era um certo sucesso, onde ela falava sobre finanças pessoais, sair das dívidas, viver uma vida intencional, frugal e minimalista.

“Se você não substitui um mal hábito por um novo hábito, é provável que se torne “relapso” e volte a seus hábitos antigos.”

O desafio de não comprar nada deu tão certo que ela resolveu estender por mais um ano e suas impressões mais íntimas estão no livro Year of less: how I stopped shopping, gave away my belongings, and discovered life is worth more than anything you can buy in store – O ano do menos: como eu parei de comprar, dei minhas coisas, e descobri que a vida vale mais do que você pode comprar na loja – sem tradução para o português ainda, portanto todos os trechos aqui nesse post são traduções livres.

!http://ecominimalismo.com/wp-content/uploads/2021/09/image.jpeg

Demorei tanto para escrever uma resenha desse livro, que a Cait lançou outro, o Adventures in Opting Out: A Field Guide to Leading an Intentional Life – Aventuras de quem caiu fora: O guia de campo para guiar uma vida intencional. Então esse post é um 2 em 1, aqui vão minhas impressões sobre ambas as obras da autora:

No primeiro livro, Cait conta as regras de seu ano sem compras – ela poderia comprar comida e itens de higiene, por exemplo – e narra detalhes de desejos de consumo que eu e você até já normalizamos e que, quando colocados em palavras, parecem meio bestas ou até absurdos, por exemplo: “Uma das maneiras de gastar dinheiro sem pensar é comprar 2 livros ao invés de um para completar um valor e conseguir frete gratuito.”

Quantos minutos ou horas de vida você gasta se atentando a detalhes minuciosos e tomando pequenas decisões totalmente estúpidas sobre compra de bens materiais? (que no fim acabamos nem usando) Eu admito que já gastei boas horas.

Motivação

Para manter a motivação de ficar um ano sem comprar a autora se lembrava das coisas que já tinha em casa e daquelas das quais tinha se desfeito no início do desafio: muitos daqueles objetos foram comprados para o que ela chama de ‘versão ideal de mim‘ e provavelmente as coisas que ela desejava comprar também serviam para suprir o mesmo propósito.

Em 29 anos, a autora diz ter comprado e guardado a maior parte de seus pertences para ser alguém que supostamente esperavam que ela fosse. Com o tempo, ela percebeu que era mais feliz quando não focava sua atenção no que poderia ter ou no que deveria ser. Decidiu que seus valores não poderiam ser baseados nas coisas que desejava, começou a ver mais valor em si mesma como ela era e a internalizar que ela não devia nada ao mundo: fazer o que queria fazer já era o suficiente – já ouvi falar que essa questão é muito recorrente para mulheres, que nunca estão completas e sentem que tem que fazer mais para serem válidas e aceitas.

“A parte mais difícil de não poder comprar mais nada, não era deixar de comprar coisas novas – era ter de sentir físicamente o confronto dos meus gatilhos e mudar minha reação a eles.”

Fica claro no livro que a Cait passa a ressignificar muitos pontos da suas memórias, ela diz que a história que você conta a você mesma é muito importante para manter seus objetivos. De alguma forma, da pra perceber que as coisas ao seu redor ficam diferentes, principalmente seus relacionamentos, mas isso ela só vem trabalhar mais a fundo no segundo livro. Afinal, se você decidir mudar de vida, aderir ao minimalismo ou qualquer outro estilo de vida mais intencional, vai perder amigos e ficar sozinha?

“Eu queria estar cercada de pessoas que preferiam viver do que trabalhar, passar o tempo ao ar livre do que online, e fazer as coisas por eles mesmos ao invés de pagar por todo tipo de conveniência.”

Álcool

Outro tópico que fica bastante evidente nesse primeiro livro, é a época em que Cait parou de beber álcool. Ela não era dependente, mas tinha começado a beber cedo e sentia que tinha feito muitas escolhas ruins por conta desse hábito.

Me identifiquei muito com essas passagens, principalmente com a reação negativa das pessoas quando ela tomou a decisão de se tornar abstêmia. Fumio Sasaki também comenta, tanto do seu livro sobre minimalismo, quanto no de hábitos, sobre como, apesar de não ser um alcoólatra, também prefere ser totalmente abstêmio do que beber esporadicamente.

“Parar de beber me ensinou a ouvir a mim mesma. Como fazer o que é certo para mim. Como ficar só em uma sala lotada. Como sentir meus sentimentos. Como confiar que eu sou resiliente e posso lidar com qualquer situação em que me encontrar. Como construir relações mais significativas. Como ser auto-consciente. E como deixar os outros se expressarem também.”

Cait percebeu que descontava suas ansiedades e questões subconscientes mal resolvidas tanto em compras, quanto em álcool e, ao parar com os dois, notou com mais clareza até mesmo as sensações físicas que sua ansiedade trazia e identificou outras duas válvulas de escape: comer em excesso e ver TV.

!http://ecominimalismo.com/wp-content/uploads/2021/09/image-1.jpeg

O segundo Livro – Mudar de vida

O segundo livro é um guia para opt out, que pode ser traduzido como ‘cair fora’, ‘se descadastrar’, ‘escolher não fazer parte de uma atividade’, ‘parar voluntariamente de estar envolvida’… e não conta só a história da autora, mas é um compilado de relato de muitas pessoas que topam compartilhar como foi tomar caminhos diferentes dos que eram esperados delas em seus meios sociais. Questões que aparecem nesse livro: ‘ter filhos ou não – e em qual idade’, ‘comprar ou alugar’, ‘ficar ou ir’, ‘empreender ou subir na escada coorporativa’…

“Eu aprendi várias vezes que cada pequena mudança que você faz paga juros compostos. Te ajuda a fazer outra mudança, outra troca de paradigma, outra decisão de viver de uma nova forma.”

Dois anos após o primeiro lançamento, da pra perceber que a Cait não quer manter o mesmo ar de blog no livro, tampouco de confessionário: ela comenta muitas vezes sobre a importância de resguardar suas intimidades, estabelecer limites e fazer terapia. Apesar de dar certo contexto sobre sua vida pessoal, ela o faz justamente com o intuito de incentivar a leitora a buscar também explorar quais são as nuances de sua própria história.

Talvez você já tenha ouvido uma vozinha interna pedindo para mudar algo, aquela ideia que vem do nada ‘e se eu fizesse tal coisa?’. Você não sabe muito bem de onde vem e muito menos qual é o melhor caminho para seguir esse ‘chamado’, mas uma coisa é certa: se todas as pessoas ao seu redor são como você, nenhuma delas vai ter essa resposta ou vai sugerir que você faça alguma mudança “talvez as pessoas nem pensem sobre isso, mas você acha que se sentiria tão melhor se trocasse de roupas ou se parasse de beber”.

As pessoas próximas a você já se acostumaram com sua ‘versão atual’, pois os seres humanos preferem coisas previsíveis, tanto para economizar energia, quanto para construir confiança.

A questão de tomar alguma atitude em relação a vontade de mudar é meio difícil mesmo, as pessoas demoram para construir o que já tem e não sabem o que pode acontecer se mudar as coisas de lugar. Porém Cait argumenta que, desde que seja feito um pequeno plano, sem sair do orçamento, muitas aventuras nem são tão arriscadas assim. “Basta ajustar a mudança de acordo com seu nível de tolerância.”

“Nos mantemos ocupados com nossas rotinas, vamos com a corrente, fazemos o que sempre fizemos – em todas as áreas de nossas vidas – e acreditamos nas histórias que nos contaram, ou que contamos a nós mesmos, sobre como e porquê as coisas são como devem ser. Nos prendendo a essas rotinas e histórias, não nos damos o tempo e o espaço para apertar o ‘pause’, olhar objetivamente para nossas histórias, e perguntar a nós mesmos se é isso que realmente queremos.”

Tipos de mudanças

Os exemplos do livro não eram tão radicais, teve o caso do moço que queria fazer algo diferente em seu empreendimento, ele não mudou totalmente o plano de negócios, mas decidiu testar novos produtos.

Teve o caso da moça que, como Cait, parou de beber, mas não porque já vinha pensando nisso como um problema, mas apenas porque uma pessoa perguntou pra ela se ela já tinha tentado e, de repente, esse pareceu um desafio interessante.

As vezes pode ser meio difícil dizer para as pessoas que você não tem um objetivo específico, mas que gostaria de mudar uma ou outra coisa em sua vida. O medo do julgamento alheio é quase material “Isso me faria parecer entediante, ou mediana, ou medíocre, ou preguiçosa”, mas a ideia do **Opt out que a autora trás é muito mais uma decisão interna do que externa: não precisa necessariamente ser anunciada, não é preciso provar nada para ninguém e a coisa a ser mudada não precisa ser nada incrível, grandioso ou fenomenal.

Amizades

Mudar antigos hábitos ou testar novas possibilidades, porém, pode ser bem difícil de ser feito sozinha “você quer por perto a pessoa que vai te ajudar a ficar nesse novo caminho e vai fazer o que você sente que é o certo”, é bom encontrar pessoas que parecem entender o que você esta tentando fazer, elas não precisam ser suas melhores amigas e voce não precisa ser a pessoa que entende elas de volta. Nem sempre essas pessoas são muito parecidas com você, elas apenas veem valor na mudança e respeitam suas decisões.

No decorrer do livro, Cait conta sobre seus colegas que gostam de caminhar nas montanhas com ela, os que são escritores também e vários outros casos, muitos deles tem rotinas e vidas totalmente diferentes dos dela, mas são bons amigos e boas companhias para as atividades que ambos tem em comum – o que pode ser apenas tomar um café e bater papo.

“As vezes você vai encontrar alguém uma vez e vai ser o suficiente. E as vezes você vai encontrar ela uma segunda ou terceira vez, cada encontro melhor que o outro. Mas não necessariamente.”

A autora diz que, quanto mais autêntico é o caminho que se escolhe seguir, mais você descobe que, por mais diferentes que as pessoas sejam, é possível que tenham coisas em comum e que podem ver valor uns nos outros. O que une as pessoas pode justamente ser o fato que que prezam pelas diferenças.

As coisas mudam

O livro bate muito na tecla de que as coisas são efêmeras, tanto as relações que temos, quanto as condições das decisões que tomamos. Deixar ir, confiar no processo, observar as mudanças, esses são recados que Cait passa de várias maneiras. Aqui vão quatro exemplos de como as coisas, inevitavelmente, mudam:

  • Pode ser que você tentou fazer algo muitas sem sucesso. Depois de anos tentando, você esta quase desistindo e lamentando que isso não é pra você, mas daí, um belo dia, rola! Esse foi o caso dela com o álcool, ela tentou parar de beber por anos, chegou a dizer para as pessoas que ia parar e não conseguiu, mas em um certo momento, rolou! E agora ela é abstêmia. Ela não tentou nada de diferente do que das últimas vezes, o comprometimento foi o mesmo, mas dessa vez ‘funcionou’.
  • Parece que você não esta indo para nenhum lugar, que suas decisões foram erradas ou que a vida não tem nenhum sentido, mas passa alguns meses ou anos e você percebe que esta tudo bem exatamente do jeito que esta. “Opting out não é uma corrida. Você não precisa provar nada para ninguém e não precisa ser uma luta contínua. Você tem as rédeas para continuar em cada parte do caminho.”
  • Há uma concepção, que ela considera ocidental, de que se deve pensar nos próximos passos: qual será a próxima meta e qual será a próxima medida de sucesso… ela duvida um pouco da utilidade dessa visão progressista e cartesiana “não há uma meta final. voce esta fazendo porque quer e porque pode. essa é a sua vida.”
  • Ela coloca o auto conhecimento como algo contínuo “pode demorar anos para você descobrir quem você é e o que a vida pode ser” e algo que não precisa fazer sentido e ser explicado o tempo todo “como se você tivesse que justificar que você esta trocando de caminho e contar cada detalhe do seu novo plano”.
  • E o que parece ser um ponto chave do livro é a questão de que um relacionamento de sucesso não tem que ser aquele que dura para sempre “Ao invés de ter medo, talvez a gente possa tentar lembrar que nosso tempo juntos sempre será temporário.”.

O livro segue entre o ar meio auto ajuda intuitivo “voce deve confiar que voce tem valor e que voce tem algo para dar. porque voce é e você tem.” e o racionalismo na hora de tomar decisões “Você pensou sobre ter filhos no último ano? Você já teve inveja das pessoas que tem filhos? Ainda parece algo que você não quer fazer?”, sempre convidativo a questionar o status quo.

Cait Flanders

Se você gostou das ideias de Cait e quer saber mais, o primeiro livro é bem rapidinho de ler, parece um blog, e já foi lançado em português como: O ano em que menos é muito mais: Por 365 dias, parei de comprar, doei meus pertences, desliguei a TV e descobri o que realmente importa da última vez que vi era menos de 10 reais na amazon.

O segundo livro ainda não tem tradução, mas é um ótimo jeito de treinar o inglês com vocabulário do cotidiano: Adventures in Opting Out: A Field Guide to Leading an Intentional Life.

E atualmente a autora não tem mais um blog (inclusive deletou todo o conteúdo que tinha), mas mantém uma conversa no seu podcast Opting Out.

Onde hábitos e minimalismo se encontram: notas sobre os livros do Fumio Sasaki

micneaz · 10 de maio de 2021 ·

Você já comprou alguma coisa que nunca usou.

Não importa quão pobre ou rico você é, você tem alguma coisa esquecida numa gaveta, que pouco usa ou pouco usou.

Você também, provavelmente, tem coisas quase obsoletas na sua casa como CDs e DVDs, talvez até disquetes.

É parte da modernidade: desde que o salário dos trabalhadores de fábrica aumentou e que as propagandas surgiram no jornal, as pessoas querem comprar coisas, acumular coisas em casa.

Fumio Sasaki não era diferente, acumulava cadernos, instrumento musical, máquina fotográfica, jogos, livros… Ele guardava todos os aparatos para seus supostos futuros hobbies, mas ele raramente tocava neles, deixava tudo para depois. Chegava tarde do trabalho, abria uma cerveja, ligava a TV e, no dia seguinte, era tudo igual.

Até que ele resolveu que queria mudar.

Começou por limpar sua casa, se desfazer de todas as coisas que não utilizava e a se tornar uma pessoa mais saudável, até parou de beber. Esse processo de transformação pessoal demorou mais de um ano, era muita coisa para vender, para dar… também era difícil mudar de hábitos. Claro que ele documentou essa transformação em um blog.

O minimalism.jp foi criando um público grande e Fumio, apenas um homem solteiro de trinta e poucos anos, editor assalariado japonês, acabou palestrando, em 2017, para a sociedade japonesa de Nova York, onde até mostrou as fotos do antes e depois do seu ‘processo minimalista’:

  • Note quem é o apresentador do evento: Matt d’Avella 😉

Fumio acredita que se livrar dos objetos que não usa é muito mais do que só tornar a limpeza de casa mais fácil, por isso escreveu dois livros para explicar sua filosofia de vida: o ‘Adeus, coisas’ e o ‘Hello, habits’.

No Adeus Coisas, ele dissemina os métodos e técnicas que usou para se tornar um minimalista e incentiva o leitor a experimentar o minimalismo, o que acredita ser um estilo de vida libertador. O livro tem um passo a passo com MUITASa dicas para destralhar .

“minimalistas sabem diferenciar entre o que é necessário para elas, versus o que elas querem para manter as aparências, e não tem medo de cortar tudo na segunda categoria.”

Além de falar de possessões materiais, o autor também explica a importância de reduzir as distrações e atenta que a internet é uma fonte de sobrecarga de informações que nos faz comprar coisas inúteis e tomar decisões ruins. Afinal, até uns 300 anos atrás, não havia jornal, as cidades não tinham notícias rápidas umas sobre as outras, as pessoas viviam com uma quantidade limitada de informações. [ Será que viver no ‘Aqui e agora’ era muito mais fácil? ]

Compreender a natureza

Fumio lembra o leitor que seres humanos tem um sistema nervoso ainda igual ao de caçadores coletores “com um cérebro de 5 mil anos, nós não temos muito espaço para gastar tempo ou energia”. A super carga de informações pode atrapalhar as atividades do dia a dia e, sem que você perceba, atrapalha suas emoções e sua capacidade de tomar boas decisões.

“Nós podemos comprar qualquer coisa online, de qualquer lugar do mundo. Podemos assistir programas de qualquer país estrangeiro, sem mencionar as rádios além mar. É como se todos meus amigos tivessem se tornado escritores de artigos ou repórteres gourmet, ou talvez correspondentes no exterior, quando eu penso em todas as notícias globais que eles me mandam por twitter, Facebook e LINE.”

Toda essa conectividade também leva a uma comparação constante entre inúmeras referências, ideias, possibilidades, pessoas, personalidades… e, depois que Fumio começou a minimizar esses estímulos externos, ele notou: “Eu não tenho um apartamento com uma vista alta da cidade. Eu não tenho nenhuma dessas coisas que eu sempre achei que queria.” ou seja, depois que começou a se questionar e sentir seus próprios sentimentos, sem tantas interferências externas, ele percebeu que não queria tudo o que achava que queria, ele conseguiu separar melhor o que era dele e o que era estímulo externo.

Isso deixou ele mais tranquilo, por isso passou a defender que, por mais que as pessoas façam o que todos estão fazendo, por mais que sigam as tendências, continuarão insatisfeitas. Por exemplo, quantas pessoas não vemos que enchem o rosto de botox e o corpo de silicone, gastam milhares de reais… e ainda querem mais? Fumio diz “a pessoa pode fazer plásticas para levantar o rosto, ficar entediada das mudanças e continuar querendo fazer outras.”. Será que esse é um convite para viver uma vida onde o espelho e as selfies tenham menos centralidade?

“Você não é a única pessoa que esta preocupada com seu rosto – todos nós estamos envelhecendo”

Como fazer isso?

Fumio acredita que é preciso ver valor em ser exatamente quem se é, gostar da própria vida que tem, no momento e condições presentes, sem tirar nem por. Só assim o desejo de querer mais e mais diminui um pouco, assim como a necessidade de procurar novas coisas para matar o tédio.

“Nós podemos fazer qualquer coisa sem uma dose de narcisismo. Não é ruim pensarmos que nós somos valiosos. Na verdade, é necessário. O problema reside em como transmitimos nosso valor ás outras pessoas.”

Nutrir o sentimento de ser suficiente e acreditar que existir é, por si só, motivo para se ter valor. É cultivando esse tipo de pensamento que a vontade de consumir vai se esvaindo. Consumir para suprir um vazio do que esta faltando agora abre espaço para um movimento de mudança, do eu e do mundo, mais profunda, que não tem muito a ver com ter, mas mais com ser. É uma mudança de compreensão da realidade que sai da lógica cultural capitalista moderna.

Danshari ou destralhar, é a ferramenta que Fumio encontrou para economizar dinheiro, ter um corpo saudável, melhorar suas relações, descobrir novos hobbies e aumentar a percepção sobre seus pensamentos e sua energia.

Relacionamentos

Essa destralhe não foi fácil, assim como a Cait Flanders, Fumio nota “Parece que o medo de nos arrependermos é o que nos previne de dizer adeus”. Com medo de se arrepender depois. ele tirou foto de todos os pertences que tinha, para caso sentisse falta de algo e quisesse comprar de novo, mas ele afirma que nunca nem chegou a abrir a pasta com as tais fotos.

Outro receio era o julgamento alheio, “Eu não me sinto mais envergonhado de fazer qualquer coisa. De agora em diante, eu simplesmente faço o que tiver vontade.”, coisa que Cait também trás em seu livro, ela diz “o medo de acharem que você esta se desfazendo das coisas porque esta sem grana ou que você é um chato porque não quer sair pra beber”, por exemplo.

“Nos prender a coisas do passado é a mesma coisa que nos apegarmos com uma antiga imagem nossa. Se você esta minimamente interessado em mudar alguma coisa em você, eu sugiro que seja corajoso e comece a deixar as coisas irem. Deixe apenas as coisas que você precisa para fazer esse próximo movimento.

Porém, o que Sasaki notou foi, na verdade, que ele mesmo parou de julgar os outros por seus pertences ou cargos. Ele não acha mais difícil explicar para as pessoas que esta testando novas maneiras de ser feliz e que ele respeita as escolhas delas, mesmo tomando um caminho totalmente diferente.

!http://ecominimalismo.com/wp-content/uploads/2021/09/image-2.jpeg

Segundo Livro – Hábitos

Dois anos depois desse primeiro livro, Fumio escreveu o ‘Hello, habits’, um ótimo livro introdutório sobre o assunto, com muitos exemplos do cotidiano e relatos bem descritivos de como contornar as dificuldades mentais e físicas ao criar novos hábitos.

A simplicidade com que o autor descreve sua própria rotina vai contra a corrente dos gurus da internet, cheios de regras para o aumento da produtividade e performance, enumerando os hábitos de pessoas bem sucedidas, bilionárias ou de alguma corrente específica, como o Ayurveda ou o Estoicismo, por exemplo. Esperam que as pessoas valorizem e imitem em suas vidas essas listas de hábitos.

Fumio entende que é importante criar seus próprios hábitos: Ele denuncia a simplicidade do cotidiano (lavar um prato, varrer a sala…) e trás um método de parteira parecido com Sócrates: ele não da uma lista pronta de bons hábitos que o leitor deve aderir, mas instiga o leitor com perguntas e reflexões e o convida a dar luz aos seus próprios hábitos, que façam sentido para suas próprias particularidades.

O autor acredita que cada pessoa tem um sistema de valores próprios e um ponto de partida totalmente particular, ou seja, a sua história de vida construiu o que hoje te trás prazer imediato e o que você topa esperar um pouco mais, para poder obter um maior prazer depois de esperar ou depois de fazer algum esforço.

“As pessoas acham difícil imaginar que outras tem diferentes tipos de ‘sistemas de recompensa’ do que elas mesmas.”

O que Fumio levanta é que criar um hábito é passar pelo primeiro momento de estranheza. Esse primeiro momento pode demorar dias, meses ou anos: criar um hábito é conscientemente repetir algo várias vezes ,até que a memória consiga se lembrar que a recompensa que vem depois. É educar o cérebro de que não é uma promessa que a recompensa virá, é uma certeza.

“Eu me lembro que se eu acordar e fizer um pouco e yoga, estarei acordado em 5 minutos, mesmo se eu estiver cansado quando tocar o despertador. Porque eu repeti esse embate interno repetidas vezes, o resultado é sempre o mesmo. Meu parlamento interno não tem que ficar repetindo o voto.”

Por exemplo, depois de muito tempo sem se exercitar, fazer esse esforço é horrível, dói, o corpo sua demais 😪, o coração fica acelerado… como se habituar ao ato de se exercitar? O autor da alguns exemplos de relatos mostrando que, mesmo atletas profissionais, depois de anos de prática, tem o pensamento ‘não quero treinar hoje’, mas vão treinar mesmo assim.

Tonar algo um hábito significa reescrever uma recompensa no cérebro. Enquanto o senso de satisfação e euforia instantânea for maior do que aquele que vem depois, você procrastina coisas difíceis e faz logo as coisas fáceis. É preciso fazer algo várias vezes até que a espinha do dendrito que conecta as sinapses no cérebro se torne maior.

“Não é que as coisas atraentes em frente de você desaparecem. Mas quando você continua recebendo recompensas maiores no futuro, a recompensa em sua frente (aquela que vem mais rápido) se torna entediante.”

O mesmo vale para os hábitos que se quer quebrar: quanto menos treinar tal coisa (assistir pornografia, por exemplo), as sinapses de recompensa sobre aquilo se enfraquecem e essa conexão fica ‘em estado dormente’. Essa vontade pela recompensa imediata é o sistema nervoso mais primitivo agindo, portanto, quanto mais você desenvolve hábitos – um de cada vez – menos utiliza dos seus instintos.

Motivação

Fumio diz que os dois principais motivadores são a aceitação social e o próprio senso de eu, as histórias que você conta para si próprio sobre quem você é. É preciso usar essas coisas em favor próprio. Ao invés de pensar que as pessoas vão achar ruim se você mudar, é preciso encontrar a aprovação alheia. Ou seja, perceber que sempre há quem encontre valor em alguma coisa, assim como sempre há quem não queira essa coisa para si, mas focar-se apenas no lado positivo dessa visão.

Para manter a motivação de ficar um ano sem comprar a autora se lembrava das coisas que já tinha em casa e daquelas das quais tinha se desfeito no início do desafio: muitos daqueles objetos foram comprados para o que ela chama de ‘versão ideal de mim‘ e provavelmente as coisas que ela desejava comprar também serviam para suprir o mesmo propósito.

Em 29 anos, a autora diz ter comprado e guardado a maior parte de seus pertences para ser alguém que supostamente esperavam que ela fosse. Com o tempo, ela percebeu que era mais feliz quando não focava sua atenção no que poderia ter ou no que deveria ser. Decidiu que seus valores não poderiam ser baseados nas coisas que desejava, começou a ver mais valor em si mesma como ela era e a internalizar que ela não devia nada ao mundo: fazer o que queria fazer já era o suficiente – já ouvi falar que essa questão é muito recorrente para mulheres, que nunca estão completas e sentem que tem que fazer mais para serem válidas e aceitas.

“A parte mais difícil de não poder comprar mais nada, não era deixar de comprar coisas novas – era ter de sentir físicamente o confronto dos meus gatilhos e mudar minha reação a eles.”

Fica claro no livro que a Cait passa a ressignificar muitos pontos da suas memórias, ela diz que a história que você conta a você mesma é muito importante para manter seus objetivos. De alguma forma, da pra perceber que as coisas ao seu redor ficam diferentes, principalmente seus relacionamentos, mas isso ela só vem trabalhar mais a fundo no segundo livro. Afinal, se você decidir mudar de vida, aderir ao minimalismo ou qualquer outro estilo de vida mais intencional, vai perder amigos e ficar sozinha?

“Eu queria estar cercada de pessoas que preferiam viver do que trabalhar, passar o tempo ao ar livre do que online, e fazer as coisas por eles mesmos ao invés de pagar por todo tipo de conveniência.”

Apesar de não trabalhar mais no mundo corporativo ou de não beber, Fumio compreende que a motivação das pessoas é mais importante do que a coisa em si. Um exemplo que ele dá é que ele bebia de um modo que não fazia bem pra ele, mas ele sabe que existem pessoas que trabalham com vinho ou cerveja artesanal e que esse é um negócio sério pra essas pessoas, elas levam em consideração o paladar, a qualidade dos ingredientes e muitos outros aspectos das bebidas.

A motivação, a frequência, a qualidade com que cada pessoa executa algo é totalmente diferente de indivíduo para indivíduo, se focar nas pessoas que não compreendem isso realmente não ajuda muito na tentativa de mudar de caminhos, mas considerar que há pessoas que tem respeito pelas escolhas alheias e ser uma pessoa que cultiva essa perspectiva é uma forma de conseguir transformar sua própria narrativa e compreender que sempre terá, em algum lugar, aceitação social.

“Posso olhar para outra pessoa simplesmente como outro ser humano, sem colocar a pessoa num ranking baseado nas coisas que ela tem. Com resultado, eu não penso que eu vou ter vergonha de mim novamente quando conhecer outra pessoa.”

Hábitos perigosos

Por fim, como disse, ele não trás uma lista de hábitos padrão, mas levanta que se alimentar de forma saudável, se exercitar e dormir bem são hábitos considerados chave para um bom andamento das outras partes da vida. Ele não propõe uma dieta ou um exercício em específico, mas diz que há certas necessidades básicas ao bom funcionamento do corpo que muita vezes são negligenciadas dentro da cultura de trabalho.

Ele diz que há o estereótipo de escritores ou artistas como pessoas não saudáveis, nunca atléticas, que bebem e fumam em excesso, ele questiona: “talvez seja tempo de elas pensarem se vale a pena o sacrifício das suas condições fundamentais de vida.”. O Nassim Taleb também questiona esse estereótipo em seu livro “Antifrágil” e narra que causa espanto nas pessoas que ele é um pensador bem forte, que levanta pesos.

Fumio também lembra que há uma cultura corporativa de pessoas que acreditam que só podem ser bem sucedidas se forem muito competitivas, trabalharem a mais e portanto dormirem pouco, que comem em frente ao computador etc. Para esses ele diz:

“Pessoas que são incentivadas por empresas a trabalharem demais podem sentir uma euforia pelo auto-sacrifício, trabalhar demais é reconhecido por seus iguais, então sua dor é a sua própria recompensa (aprovação social). Mesmo que elas queiram sair dessa situação, pode ser difícil se isolar da comunidade corporativa.

Fumio Sasaki

Se você gostou das ideias do Fumio e quer ler direto da fonte, seu primeiro livro é ótimo guia para revisitar e já foi lançado em português como: Dê adeus ao excesso: A sensação libertadora de viver com menos que só o minimalismo .

Já o segundo livro ainda não foi traduzido: [Hello, Habits: A Minimalist’s Guide to a Better Life](http://hello%2C%20habits:%20A%20Minimalist’s%20Guide%20to%20a%20Better%20Life/)

Fora esses meios, o autor posta raramente no minimalism.jp , um blog que mantém com um amigo. É possível traduzir o conteúdo da página inteira em japonês com a ferramenta do google de tradução, é só copiar o link na área para traduzir e ela te dá a opção de abrir a página já traduzida. (Eu particularmente acho que a tradução do japonês fica bem esquisita)

“When given too many choices, people tend to worry that there’s something better out there than what they decided on.’ Fumio Sasaki

  • « Go to Previous Page
  • Go to page 1
  • Go to page 2
  • Go to page 3
  • Go to Next Page »

michelle azevedo

@micazev 2023 | Design by StudioPress